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O treinador Dunga, concedeu uma entrevista ao site FIFA.com antes de assumir o comando da seleção e falou sobre a eliminação da seleção na Copa do Mundo e outras questões ligadas ao mundial realizado no Brasil, confira o BATE BOLA:
>>> Como
treinador e, agora como torcedor também, como você viu aquele apagão da Seleção
Brasileira no primeiro tempo contra a Alemanha?
DUNGA: Acho que a Alemanha
fez o que o Brasil fazia há muito tempo: montou um triângulo num lado do campo
e depois passou a mudar o jogo, com passes de 40, 50 metros. E a vantagem é que
ela tinha o jogador ideal do lado oposto, que era o (Thomas) Müller, com velocidade e
qualidade para dar sequência. É até delicado falar que eles não fizeram nada de
anormal ou de excepcional. Mas eles fizeram, sim, porque isso é simplesmente o
que todo time sonha em fazer. A Alemanha jogou em bloco, teve aproximação,
profundidade, velocidade e soube se defender nos momentos certos. Ao mesmo
tempo, se a gente reparar nos gols, os brasileiros estavam sempre em
superioridade de marcação - mas a quatro ou cinco metros de distância. E, hoje
em dia, quando é preciso jogar de forma bem compacta, dar esse espaço pode ser fatal.
>>> Falavam
que a Alemanha não havia encantado na Copa, aí veio o jogo com o Brasil. Para
você, o que aconteceu para que eles enfim se soltassem e jogassem o futebol que
todos esperavam?
DUNGA: O fato é que a Alemanha montou seu quebra-cabeça durante a
Copa e acertou o time depois daquela vitória contra a Argélia, na qual tiveram
muitas dificuldades. Ele (o técnico Joachim Löw) tirou o (Philipp) Lahm
do meio e o pôs na lateral, onde é excepcional. Colocou o (Sami) Khedira no meio com o (Bastian) Schweinsteiger, pôs um jogador mais rápido
na defesa, que é o (Mats) Hummels,
e o (Miroslav) Klose na frente. No meio, o Schweinsteiger
comanda o time tanto na hora de marcar como de pressionar e dar ritmo ao jogo.
Ele sabe a hora de recuar e ficar no meio dos dois zagueiros, de subir ou
pressionar. As pessoas têm que entender que uma seleção não é montada só com os
melhores jogadores, mas, sim, com aqueles que se encaixam nas características
de que você precisa. O futebol se equiparou muito. O problema é que, no Brasil,
a gente acha que, se um jogador é excepcional, ele não precisa ter função
tática. É essa mentalidade que precisa mudar.
>>> Acredita
que a Copa das Confederações ajudou a aumentar a pressão nos jogadores ou a
fazer com que acreditassem que o time estava pronto para ganhar uma Copa do
Mundo?
DUNGA: Não tanto. Independentemente da competição, o Brasil sempre é
um dos favoritos, e o jogador precisa saber viver com essa pressão. Temos
jogadores nos melhores times do mundo – Real Madrid, Barcelona, Chelsea –, que
estão acostumados a ganhar. Acho que a Copa das Confederações deu, sim, mais
confiança a eles. E foi bom passar por isso, para encerrar aquele receio sobre
a Copa do Mundo. No fim, o torcedor abraçou a Seleção Brasileira, apoiou em
todos os jogos, até mesmo neste contra a Alemanha. Eu tive experiências
contrárias, como em um jogo de eliminatórias contra a Argentina, em Minas, no
qual fomos vaiados durante 90 minutos. Desta vez não houve isso.
>>> Olhando então para a Seleção, você acha que será preciso uma outra
renovação? Ou muitos jogadores têm perfil para continuar e liderar a nova
geração para 2018?
DUNGA: Vai depender da continuidade e do rendimento que alguns destes
jogadores terão. Eles precisam entender que vai haver a crítica e que isso é
preciso ser superado. Porque as gerações se criam durante os momentos de
dificuldades. Como uma Copa é uma competição curta, sem tempo de recuperação,
estes jogadores precisam ser maduros, assimilar o golpe e reagir. Se isso
acontecer, acredito que muitos deles tenham tudo para permanecer.
>>> Usando
isso como base, você acha que essa Copa traz uma nova tendência para o futebol
de hoje, com uma maior busca de gols e times mais no ataque?
DUNGA: Veja, não é porque usamos três ou quatro jogadores na frente
que teremos obrigatoriamente um time ofensivo. Podemos ter um ou nenhum
jogador, e ainda chegar com quatro ou cinco no ataque. São paradigmas que estão
sendo quebrados durante a Copa. A única seleção que jogava com três à frente e
pressionava o tempo todo era o Chile, mas isso pelas características de seus
jogadores. Eles sabiam que, defensivamente, não tinham estrutura física para
suportar o choque, então reagiam atacando. No
geral, acho que a tendência é ter mais jogadores ofensivos e rápidos, que jogam
no erro do adversário. Saíram muitos gols na Copa porque os atacantes estão
cada vez mais eficientes e móveis em campo. E nesse sistema de hoje, com todo mundo
marcando junto, voltando atrás do meio de campo para fechar os espaços e atrair
o adversário – e, aí, sair com velocidade após a recuperação –, traz bons
resultados. O jogo em geral fica mais dinâmico.